A Chapada do Araripe como Berço da cultura.

Na Chapada do Araripe a memória insiste em permanecer pulsante. Esse movimento atravessa eras geológicas, como nos mostra os registros fossilíferos que se encontram guardados nas páginas desse “livro” que é a Chapada, e que tem em suas histórias contadas até os dias de hoje, confirmando sua vocação de palco de acontecimentos que marcaram, marcam e continuarão marcando, a história natural e da humanidade.

Não poderia ser diferente. Com as mudanças climáticas ocorridas há milhares de anos, esta região passou a ser um verdadeiro oásis em meio a uma região semiárida. Assim sendo, ambiente propício a manutenção da vida natural e humana.

Esse ambiente fértil, favoreceu a fixação dos primeiros habitantes, e consequentemente, a semeadura do que veio a ser um verdadeiro caldeirão cultural em constante efervescência. Assim nasce as primeiras manifestações culturais, artísticas, religiosas, e tudo o mais que possa surgir da criatividade humana e que possa ser transmitida perpassando o tempo e o espaço.

Com a chegada dos colonizadores, que entraram para os sertões com o que ficou conhecido posteriormente como o Ciclo do Couro, trazendo consigo toda uma bagagem cultural, e encontraram nos verdes e férteis vales no entorno da Chapada, às condições ideais para fincar suas raízes, e consequentemente, mais “ingredientes” se misturaram, deixando seus traços até os dias atuais nos artefatos de couro, em que se destaca Expedito Seleiro, e toda cultura ligada ao gado e ao vaqueiro. E não parou aí. Chegou a vez do Ciclo da Cana de Açúcar, que também deixou suas marcas nos engenhos de cana, inaugurando o período colonial região, e toda sua herança. No seu auge aflora a cultura erudita; na música, na arte literária, e assim segue dando origem a movimentos políticos importantes no cenário nacional; posteriormente, as primeiras instituições de ensino como o Seminário São José, a Faculdade de Filosofia do Crato; os primeiros cinemas do interior, quando a sétima arte estava presente apenas nos grandes centros; a primeira usina hidrelétrica do Nordeste, quando ainda nem existia a Hidrelétrica de Paulo Afonso, ….. com o declínio da cana de açúcar, surge as comunidades quilombolas, que trazem até os dias atuais seus fortes traços culturais.

Ambiente Sagrado já para os primeiros habitantes, que se mantém vivo por meio de seus mitos e lendas, esse espaço atemporal tem em sua memória a

passagem do Padre Cícero Romão Batista, que colocou a Chapada do Araripe no cenário místico/religioso do Brasil, e por que não dizer do mundo, com a criação de Juazeiro do Norte, atraindo romeiro de todo sertão nordestino, com toda sua diversidade cultural, e multiplicando a efervescência já existente.

Já não fosse o bastante, em meados do século XX, mas precisamente em 1946, é criada a primeira Floresta Nacional, a FLONA Araripe, um marco ambiental, que desencadeou meio século depois o surgimento de tantas outras unidades de conservação, e o referendado Geoparque Araripe, todos com o objetivo da salva guarda do patrimônio natural e cultural aqui presente.

Assim a Chapada do Araripe se eterniza nesse tempo que aprendemos a medir, através da música de Luiz Gonzaga, da Missa do Vaqueiro, da Poesia Popular de Patativa do Assaré, das comunidades quilombolas e extrativistas, das inúmeras manifestações populares e seus Mestres e Mestras, com suas danças e rituais, do Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri e seu valioso acervo fossilífero, dos Museus Orgânicos e seu conceito inovador, do artesanato, e tantas outras expressões do homem e da natureza.

Um destaque especial ao trabalho desenvolvido pela Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Cariri, que ao longo de suas três décadas de existência, se dedica a missão de projetar no mundo um dos maiores Patrimônios da Humanidade: A Chapada do Araripe.

Reisado

É na tradição que a cultura encontra suporte. Do latim traditio, tradição significa “entregar” ou “passar adiante”. O legado de saberes e fazeres é transmitido de geração em geração, proporcionando a continuidade da cultura no Cariri Cearense entre os jovens e crianças.

Irmãos Aniceto

A banda dos irmãos Aniceto é uma das muitas referências que marcam a pluralidade cultural do Cariri cearense. A região é considerada berço de uma diversidade de manifestações artísticas e culturais, com destaque para o trabalho de mestras e mestres da cultura

Mestra Maria de Tiê

Mestra Maria de Tiê ganhou seu título por ser a guardiã da tradição da dança do coco e do maneiro pau, é mestra da cultura tanto do Cariri quanto do estado do Ceará. Maria Josefa da Conceição, Mestra Maria de Tiê mantém viva a tradição.

Mestra Zulene Galdino

Rezas, danças populares, indumentarias estilizadas, e o prazer de uma boa prosa, tudo isso encontramos no ponto de memória que é a casa da Mestra Zulene Galdino. Guardiã dessas manifestações, é no município de Crato que podemos visita-la.

Mestre Antônio Luiz

É no sítio Sassaré, município de Pontengi, no lado oriental da Chapada do Araripe, que nos deparamos com o Museu Orgânico do Mestre Antônio Luiz, contando a história do Reisado de Caretas, uma particularidade na tradição dos reisados.

D. Dinha

Tendo aprendido a arte do tear ainda na infância, D. Dinha, como é carinhosamente chamada, segue tecendo suas redes, trabalho que lhe rendeu o título de Mestra da Cultura e a instalação de um Museu Orgânico em sua casa/oficina.